AJEUM
– Banquete Sagrado dos Orixás
Por: Marcos Oliveira
A
comida e o comer ocupam um lugar fundamental na vida dos terreiros.
Isso aparece explicado de várias formas, através de uma
visão muito ampla onde a comida é entendida como força
vital, energia, principio criativo e doador de algo.
Nela encontra-se a energia máxima de uma oferta, mas, acima de
tudo, ela é o agente que fortifica os ancestrais, então,
é um meio, um veiculo por meio do qual grupos humanos e civilizações
se sustentaram durante milênios, fazendo contato com o sagrado.
No Terreiro a chamada comida de Orixá obedece a prescrições
complexas construídas ao longo do tempo e redefinidas a cada
momento, de acordo com a função que irá desempenhar
ou a “realidade” que deseja instaurar. Tudo isso é
expresso nas múltiplas formas, maneiras e diferentes modos de
preparar, fazer ou de “ tratar” os ingredientes.
Comida é sacrifício, ebó no seu sentido mais amplo,
mola propulsora que conduz ao Axé.
Daí sua intima relação com Exú, aquele que
come tudo e este encarregado de sua distribuição no mundo,
ou seja, a boca do Orun e a boca do Aiyê. É por meio da
comida oferecida ás divindades que se estabelecem as relações
entro o devoto, a comunidade e o Orixá.
Por trás de cada prato ofertado à sempre uma visão
de mundo, uma explicação, que faz o comer instaurar um
sistema de prestações e de contraprestações
que envolvem, a totalidade da vida. Nesse processo de diferenciação
em que os ingredientes na sua grande maioria são os mesmos, muda-se
a forma de ritualizar a elaboração, o cuidado, o tratamento,
a maneira de lidar com o mesmo ingrediente, o sentido impresso e invocação
através das palavras de encantamento, das cantigas e das rezas.
Assim a “cozinha de santo” aparece sempre como algo distinto,
separado da cozinha do dia a dia. Na grande maioria das vezes, não
por limites externos, físicos, mas pelos internos que são
representados por mudança s de atitude, ações,
forma de uso, etc.
A cozinha é cheia de interdições como: não
conversar mais que o necessário, não falar alto, gritar,
cantar ou dançar musica que não seja do santo, neste espaço
sacralizado tudo vai ganhando significado.
Muito mais que relacionada a um sistema nutricional, a comida se articula
e se compreende a partir de um universo maior, onde a oralidade constitui
um dos meios mais expressivos de passar seus preceitos, a observação
um método indispensável para a sua manutenção
e o comer um dos verbos que, embora muitos conjuguem, reserva-se a poucos,
restringindo-se àqueles que conhecem o tratamento e entendem
o papel e significado da comida como Axé, força vital
e sacrifício indispensável para a conservação
da vida.
A comida do orixá articula-se num universo que estabelece diferenças
e oposições. As primeiras dizem respeito ao que se come,
ao que não se come e ao não-comer; ou ainda, ao como se
come e com quem. As oposições são formuladas quanto
a origem: se comidas secas ou comidas de èjè. As comidas
secas são provenientes a base de grãos, raízes,
folhas e frutas. |